Prémio Sakharov 2024 é atribuído aos líderes da oposição venezuelana
A líder da oposição venezuelana María Corina Machado e o presidente eleito Edmundo González Urrutia receberam o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento de 2024.
O Parlamento Europeu atribuiu o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento de 2024 a María Corina Machado como líder das forças democráticas na Venezuela e ao presidente eleito Edmundo González Urrutia, em representação de todos os venezuelanos dentro e fora do país que lutam pela restauração da liberdade e da democracia.
A cerimónia que teve lugar em Estrasburgo no dia 17 de dezembro contou com a presença de González em pessoa e da filha de Machado, Ana Corina Sosa. Machado dirigiu-se aos eurodeputados remotamente, uma vez que se encontra escondida por causa das ameaças de que é alvo.
"Este prémio não apenas reconhece, mas também lembra que a luta pela liberdade nunca é em vão. O futuro da Venezuela pertence ao seu povo e o Parlamento Europeu está orgulhosamente ao seu lado", disse a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola.
Ao receber o prémio pessoalmente, Edmundo González Urrutia homenageou os venezuelanos: "são eles que verdadeiramente encarnam o espírito deste prémio, que reconhece a corajosa luta para restaurar a liberdade e a democracia na Venezuela”.
González digiriu-se ainda aos aos eurodeputados, dizendo-lhes: "A Venezuela conta convosco, porque a luta pela liberdade e pela democracia no nosso país é a luta por estes valores em todo o mundo. Viva a Venezuela livre!"
Na sua intervenção por vídeochamada, María Corina Machado frisou: "A vitória da Venezuela será a vitória de toda a humanidade, de cada indivíduo e de cada sociedade que decida construir um futuro em liberdade."
Sobre os laureados
María Corina Machado venceu as eleições primárias do seu país em 2023 para poder concorrer como candidata da oposição democrática (Plataforma Unitária) nas eleições presidenciais de 2024, mas depois de ter sido arbitrariamente desqualificada pelo regime venezuelano, Edmundo González Urrutia tornou-se candidato.
As eleições presidenciais de julho de 2024 foram precedidas por uma repressão generalizada, que inclui a desqualificação, prisões e violações dos direitos humanos. O então presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, declarou vitória nas eleições, mas os resultados foram contestados por observadores independentes, incluindo a ONU. O Parlamento Europeu reconheceu Edmundo González como presidente legítimo da Venezuela numa resolução em setembro de 2024.
Numa conjuntura de protestos e repressão política, e temendo pela sua vida, Machado teve de se esconder. No dia 2 de setembro de 2024, um tribunal venezuelano emitiu um mandado de prisão para Edmundo González, o que gerou uma onda de reprovação a nível internacional. Entretanto, González mudou-se para a Espanha, onde lhe foi concedido asilo.
Ambos foram nomeados pelo Partido Popular Europeu. Edmundo González Urrutia foi também nomeado pelos Conservadores e Reformistas Europeus.
Os outros finalistas do Prémio Sakharov 2024
Os líderes da oposição venezuelana fazia parte dos três finalistas para o prémio do Parlamento Europeu, selecionados através da votação dos membros das comissões dos Assuntos Externos e do Desenvolvimento, a 17 de outubro. Os outros dois finalistas eram o Professor Doutor Gubad Ibadoghlu, um professor universitário e ativista anticorrupção do Azerbaijão, e os movimentos de mulheres "Women Wage Peace" e "Women of the Sun", de Israel/Palestina.
Na cerimónia de entrega do prémio a 17 de dezembro, o Professor Doutor Gubad Gubadoghlu foi representado pela sua filha Zhala Bayramova, enquanto que os movimentos de mulheres foram representados por Pascale Chen (Women Wage Peace) e Reem Al Hajajra (Women of the Sun).
Professor Doutor Gubad Ibadoghlu
O Professor Doutor Gubad Ibadoghlu, é um académico e ativista anticorrupção do Azerbaijão. Foi preso em 2023 depois de criticar a indústria do petróleo e do gás do seu país e de criar uma instituição de caridade para devolver os recursos públicos roubados. Atualmente encontra-se em prisão domiciliar e enfrenta uma pena até 17 anos de prisão.
A sua detenção representou o início de uma repressão contínua contra académicos e sociedade civil antes da realização da COP29, que terá lugar em Baku no mês de novembro. Numa resolução em abril de 2024, o Parlamento pediu que as acusações contra o Professor Doutor Gubad Ibadoghlu fossem retiradas e que sua proibição de viajar fosse levantada.
Foi nomeado pelos Verdes/EFA.
"Women Wage Peace" e "Women of the Sun"
"Women of the Sun" é um movimento independente de mulheres palestinas, fundado em 2021, que reúne mulheres, jovens e crianças da Cisjordânia, da Faixa de Gaza e de uma diáspora palestina mais abrangente. Tem como objetivo difundir uma consciencialização cultural e nacional sobre a paz entre as comunidades.
"Women Wage Peace" é um movimento árabe-judaico que foi criado em 2014. Pretende promover soluções não violentas, assentes no respeito e mutuamente aceites para o conflito israelo-palestiniano, com a participação ativa das mulheres em todas as etapas das negociações.
Em março de 2022, as duas organizações anunciaram uma parceria para acabar com o ciclo de derramamento de sangue. As suas líderes receberam inúmeros elogios e foram nomeadas para o Prémio Nobel da Paz.
Os movimentos "Women Wage Peace" e "Women of the Sun" e as suas co-fundadoras, Yael Admi e Reem Hajajreh, foram nomeadas pelos Socialistas e Democratas e pelo Renew Europe.
Os outros nomeados ao prémio em 2024
Elon Musk, o CEO da SpaceX, Tesla e fundador de várias empresas, incluindo a Neuralink e a OpenAI, e proprietário do X (anteriormente Twitter), foi nomeado pelos grupos Patriotas pela Europa e Europa das Nações Soberanas. Musk adquiriu o Twitter em 2022, declarando que pretendia proteger a liberdade de expressão. Em 2024, reativou contas anteriormente banidas, argumentando que as opiniões controversas merecem fazer parte do debate para salvaguardar a democracia.
Musk também expôs práticas de censura através dos "Arquivos do Twitter" e defendeu a criação de regras que protejam a diversidade de opiniões. Além disso, está empenhado em expandir o acesso à Internet em áreas remotas, promove a inclusão digital e a igualdade no acesso à informação.
Os jornalistas na Palestina (Hamza e Wael Al-Dahdouh, Plestia Alaqad, Shireen Abu Akleh e Ain Media em memória de Yasser Murtaja e Roshdi Sarraj) foram nomeados pelo grupo A Esquerda. Pelo menos 116 jornalistas, incluindo 111 palestinos, foram mortos na Faixa de Gaza desde 7 de outubro de 2023. E muitos mais jornalistas foram agredidos, detidos ou ameaçados, desapareceram ou foram alvo de censura e ciberataques.
Entre aqueles que pereceram enquanto faziam a cobertura jornalística do conflito estão: Shireen Abu Akleh, Hamza Al-Dahdouh, Yasser Murtaja e Roshdi Sarraj. Apesar dos perigos, os jornalistas prosseguem o seu trabalho para revelar a verdade sobre a situação em Gaza, muitas vezes sem qualquer tipo de proteção ou de supervisão internacional.
O Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento
O Parlamento Europeu atribui anualmente o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento com um valor de 50 000 euros, para homenagear indivíduos e organizações exemplares que se destacam pela defesa dos direitos humanos, da democracia e das liberdades fundamentais. Os laureados em 2023 com esta distinção foram Jina Mahsa Amini e o movimento “Mulher, Vida e Liberdade” do Irão.
As nomeações para o Prémio Sakharov 2024, que podiam ser feitas por grupos políticos ou por, pelo menos, 40 eurodeputados, foram anunciadas durante uma , que teve lugar a 26 de setembro de 2024. em Bruxelas.
Criada em 1988, esta distinção deve o seu nome a Andrei Sakharov, um físico nuclear soviético e um forte defensor da democracia e dos direitos humanos. Sakharov ganhou o Prémio Nobel da Paz em 1975 pelos seus esforços para sensibilizar a população para os perigos da corrida à aquisição de armamento nuclear.