PROPOSTA DE RESOLUÇÃOsobre a nova deterioração da situação política na Geórgia
10.2.2025-()
nos termos do artigo 136.º, n.º 2, do Regimento
Adam Bielan, Mariusz Kamiński, Rihards Kols, Małgorzata Gosiewska, Jadwiga Wiśniewska, Veronika Vrecionová, Ondřej Krutílek, Assita Kanko, Sebastian Tynkkynen, Joachim Stanisław Brudziński, Roberts Zīle, Michał Dworczyk, Alexandr Vondra
em nome do Grupo ECR
Ver igualmente a proposta de resolução comumRC-B10-0106/2025
10‑0118/2025
Resolução do Parlamento Europeu sobre a nova deterioração da situação política na Geórgia
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O Parlamento Europeu,
–Tendo em conta as suas resoluções anteriores sobre a Geórgia,
–Tendo em conta o estatuto da Geórgia como país candidato à adesão à UE,
–Tendo em conta a declaração, de 1 de dezembro de 2024, da vice-presidente da Comissão/alta representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Kaja Kallas, e da comissária do Alargamento, Marta Kos, sobre a decisão da Geórgia de suspender as negociações de adesão à UE e de rejeitar o apoio financeiro da UE até 2028,
–Tendo em conta as conclusões do Conselho Europeu de 19 de dezembro de 2024,
–Tendo em conta o artigo136.º, n.º2, do seu Regimento,
A.Considerando que a situação na Geórgia se agravou drasticamente na sequência das eleições legislativas fraudulentas de 26 de outubro de 2024, que foram condenadas pela comunidade internacional por manipulação grave dos votos, intimidação generalizada dos eleitores e supressão sistémica da oposição democrática, assinalando uma regressão democrática alarmante;
B.Considerando que as eleições presidenciais na Geórgia, em 14 de dezembro de 2024, foram as primeiras realizadas ao abrigo das alterações constitucionais de 2017; que o partido «Sonho Georgiano» nomeou Mikheil Kavelashvili como único candidato e que este foi subsequentemente eleito com 224 dos 225 votos expressos, na ausência de candidatos alternativos;
C.Considerando que as autoridades do «Sonho Georgiano», em violação direta da vontade democrática dos seus cidadãos, suspenderam unilateralmente as negociações de adesão à UE até 2028, ignorando o compromisso constitucional do país para com a integração europeia e comprometendo efetivamente as aspirações soberanas euro-atlânticas da Geórgia;
D.Considerando que as autoridades do «Sonho Georgiano» no poder dão prioridade a parcerias com a China e o Irão e partilham muitos pontos de vista semelhantes com o Governo russo, apesar das suas aspirações euro-atlânticas publicamente declaradas;
E.Considerando que, em toda a Geórgia, eclodiram manifestações públicas maciças em resposta à decisão das autoridades do «Sonho Georgiano» e em protesto contra o retrocesso democrático e as ações destinadas a limitar as liberdades fundamentais;
F.Considerando que, em 5 de fevereiro de 2025, o Parlamento do «Sonho Georgiano» pôs termo aos mandatos de 49 deputados dos partidos Coligação para a Mudança, Geórgia Forte e Movimento Nacional Unido, deixando efetivamente o Parlamento com apenas 101 de 150 deputados;
G.Considerando que a nova legislação que entrou em vigor na Geórgia em 30 de dezembro de 2024 impõe novas restrições arbitrárias aos direitos à liberdade de expressão e de reunião pacífica;
H.Considerando que a jornalista Mzia Amaglobeli, que foi detida em 12 de janeiro de 2025 e enfrenta uma pena de prisão de quatro a sete anos por esbofetear um agente da polícia, tem estado em greve de fome em solidariedade com todos os presos políticos na Geórgia;
I.Considerando que as autoridades do «Sonho Georgiano» recorreram à força excessiva e a detenções arbitrárias contra manifestantes pacíficos; que, em 2 de fevereiro de 2025, as forças de segurança georgianas reprimiram violentamente manifestações pacíficas em Tiblíssi, levando à detenção de mais de 30 manifestantes, incluindo os líderes das forças políticas democráticas georgianas Nika Melia, Giorgi Ugulava e Elene Khoshtaria;
J.Considerando que, em 27 de janeiro de 2025, o Conselho decidiu suspender partes do acordo de facilitação de vistos entre a UE e a Geórgia para diplomatas e funcionários georgianos, enquanto os cidadãos comuns georgianos continuarão a beneficiar da isenção de visto;
K.Considerando que os Estados Unidos suspenderam a Parceria Estratégica EUA-Geórgia em resposta ao retrocesso democrático do Governo georgiano e impuseram sanções pessoais aos funcionários do «Sonho Georgiano», bem como ao oligarca Bidzina Ivanishvili;
L.Considerando que, em 29 de janeiro de 2025, a República da Geórgia retirou a sua delegação da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa após esta ter exigido novas eleições parlamentares, a libertação dos presos políticos e a responsabilização dos autores de atos de violência;
M.Considerando que os funcionários do «Sonho Georgiano» continuam a utilizar uma retórica antieuropeia e pró-russa, acusando falsamente as forças políticas democráticas georgianas, os meios de comunicação social independentes e a sociedade civil de atuarem como «agentes estrangeiros» ao mesmo tempo que tentam criminalizar o ativismo pró-europeu; que a narrativa do «Sonho Georgiano» é que o Ocidente está a tentar empurrar a Geórgia de volta para uma guerra com a Rússia;
N.Considerando que Mikheil Saakashvili, que exerceu o cargo de presidente da Geórgia de 2004 a 2013 e é o líder do maior partido político pró-ocidental, se encontra detido desde outubro de 2022 e tem sido vítima de maus-tratos na prisão e de tratamentos humilhantes durante as audiências em tribunal – ações que configuram uma ameaça clara e real à integridade da legitimidade democrática da Geórgia; que as repetidas recusas de autorização de visitas à prisão o privaram do acesso essencial a aconselhamento jurídico e apoio familiar, agravando ainda mais as condições desumanas da sua detenção;
1.Condena veementemente as ações antidemocráticas das autoridades do «Sonho Georgiano», incluindo a sua decisão unilateral e inconstitucional de suspender o processo de adesão da Geórgia à UE até 2028, o que contradiz diretamente a vontade do povo georgiano e serve os interesses de intervenientes autoritários externos; lamenta profundamente que o partido no poder, o «Sonho Georgiano», tenha abandonado o seu caminho rumo à integração europeia e à adesão à NATO, aumentando simultaneamente a vulnerabilidade da Geórgia à influência externa, em particular do Kremlin; alerta para o facto de o contínuo retrocesso da Geórgia em matéria de governação democrática, Estado de direito e direitos humanos ter consequências diretas e graves nas suas perspetivas de adesão à UE, incluindo a suspensão da assistência financeira ao abrigo do quadro de alargamento da UE;
2.Sublinha que as recentes eleições não foram livres nem justas e foram marcadas por uma manipulação generalizada dos votos, incluindo o voto múltiplo e a falta de respeito pelo voto secreto, a intimidação dos eleitores, a compra de votos e graves irregularidades;
3.Lamenta profundamente o cancelamento de 49 mandatos de deputados, o que deixa o Parlamento da Geórgia sem forças políticas alternativas e constitui um sinal do novo retrocesso democrático do país;
4.Exige eleições legislativas e presidenciais imediatas, livres e justas na Geórgia, realizadas sob a supervisão plena e transparente de organismos internacionais, nomeadamente a UE, o Gabinete das Instituições Democráticas e dos Direitos Humanos da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa e outras instituições democráticas, a fim de restabelecer a governação legítima e defender as aspirações democráticas do povo georgiano;
5.Condena veementemente a promulgação de legislação draconiana que impõe restrições injustificadas às liberdades de expressão e de reunião pacífica; exorta as autoridades georgianas a revogarem imediatamente estas leis repressivas e a libertarem todos os presos políticos, incluindo a jornalista Mzia Amaglobeli;
6.Declara-se alarmado com os casos contínuos e altamente preocupantes de intimidação e violência contra as forças políticas democráticas georgianas e com as ameaças de mais repressão expressas pela liderança do «Sonho Georgiano», inclusivamente pelo oligarca Bidzina Ivanishvili, com o intuito de ilegalizar a oposição democrática pró-ocidental e silenciar a dissidência;
7.Exige uma investigação independente, transparente e imparcial sobre a brutalidade policial e o uso excessivo da força contra manifestantes pacíficos; solicita que os responsáveis por violações dos direitos humanos, incluindo os membros das autoridades responsáveis pela aplicação da lei e os funcionários governamentais que ordenam a repressão, sejam plenamente responsabilizados;
8.Manifesta total solidariedade para com o povo georgiano e a sua sociedade civil dinâmica, que tradicionalmente tem desempenhado um papel muito ativo e central no sentido de aproximar o país do Ocidente, promovendo a democratização e impulsionando a integração euro-atlântica, em consonância com os desejos do povo da Geórgia; lamenta, neste contexto, a crescente retórica antiocidental e hostil dos representantes do partido «Sonho Georgiano» contra os parceiros estratégicos ocidentais da Geórgia, nomeadamente os Estados Unidos e a UE, incluindo os seus deputados e funcionários, bem como a promoção da desinformação e manipulação russas pelo «Sonho Georgiano»;
9.Manifesta-se alarmado com o claro alinhamento do Governo do «Sonho Georgiano» com as narrativas apoiadas pelo Kremlin, os seus crescentes laços económicos e políticos com a Rússia e a sua obstrução deliberada à integração euro-atlântica da Geórgia, o que contradiz fundamentalmente as prioridades constitucionais e estratégicas do país; condena o reforço dos laços comerciais com a Rússia e a recusa em impor sanções a Moscovo, apesar da sua ocupação progressiva do território georgiano e da sua agressão contra a Ucrânia;
10.Congratula-se com a posição firme adotada pelos parceiros internacionais, incluindo os Estados Unidos, que condenaram as ações antidemocráticas das autoridades do «Sonho Georgiano» e suspenderam as principais parcerias bilaterais, como a Parceria Estratégica EUA-Geórgia;
11.Insta a Comissão a intensificar e alargar o seu apoio à sociedade civil na Geórgia, sobretudo à luz das medidas cada vez mais severas que são impostas ao povo georgiano;
12.Reitera com veemência o seu apelo ao Conselho e aos parceiros democráticos da UE para que imponham sanções pessoais imediatas e específicas a Bidzina Ivanishvili e congelem todos os seus bens na União em razão do papel que desempenhou na deterioração do processo político na Geórgia e das suas ações contrárias aos interesses do país sancionados na Constituição, nomeadamente os esforços para restabelecer a esfera de influência da Rússia sobre o país;
13.Exorta a UE e os seus Estados-Membros a imporem sanções pessoais aos funcionários e líderes políticos da Geórgia responsáveis pelo retrocesso democrático, nomeadamente Irakli Kobakhidze, presidente do município de Tiblíssi Kakha Kaladze, Shalva Papuashvili e Irakli Garibashvili, presidente do partido «Sonho Georgiano», e a alargarem estas sanções aos juízes que proferem sentenças com motivações políticas;
14.Congratula-se com as proibições de viagem impostas pela UE a funcionários georgianos, mas sublinha que a suspensão do acordo de liberalização de vistos com a Geórgia só deve ser ponderada após a aplicação de sanções pessoais contra membros do partido no poder e o oligarca dominante Bidzina Ivanishvili;
15.Apoia a suspensão imediata de todos os compromissos diplomáticos de alto nível com o Governo georgiano até que sejam implementadas reformas democráticas concretas, mantendo e alargando simultaneamente o apoio direto da UE à sociedade civil, aos meios de comunicação social independentes e às forças da oposição pró-democráticas da Geórgia;
16.Insta o Conselho a avaliar formalmente as implicações do declínio democrático da Geórgia no seu estatuto de país candidato à adesão à UE e a condicionar as futuras conversações de adesão ao pleno restabelecimento da governação democrática, da liberdade dos meios de comunicação social e do Estado de direito;
17.Apela à suspensão de todos os acordos comerciais preferenciais e da assistência financeira ao Governo georgiano se este prosseguir a sua trajetória autoritária, assegurando que o apoio da UE seja exclusivamente dirigido ao povo georgiano e aos intervenientes da sociedade civil empenhados nos valores democráticos;
18.Apela a todos os partidos políticos pró-democráticos que receberam apoio do eleitorado georgiano para que formalizem a sua coordenação e criem uma estrutura unificada que represente as aspirações pró-europeias do povo georgiano dentro e fora do país;
19.Reitera com firmeza o seu pedido urgente de libertação imediata e incondicional do antigo presidente Mikheil Saakashvili por razões humanitárias, para que possa receber tratamento médico no estrangeiro; realça que a vida, a saúde, a segurança e o bem-estar do antigo presidente Mikheil Saakashvili são da total e incontestável responsabilidade das autoridades do «Sonho Georgiano», pelo que a estas devem ser assacadas plenas responsabilidades por quaisquer danos causados ao antigo presidente;
20.Encarrega a sua Presidente de transmitir a presente resolução ao Conselho, à Comissão, à Vice-Presidente da Comissão/Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, aos governos e aos parlamentos dos Estados‑Membros da UE, ao Conselho da Europa, à Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, bem como ao Presidente, ao Governo e ao Parlamento de facto da Geórgia.